LET GO!...
ARTICLES • 27-08-2014
LET GO!...

Death Valley, USA


 

Imagine que os deuses decidiram que no fim de cada vida tínhamos direito a outra, novinha em folha. Com uma única condição: ter feito tudo o que estava ao alcance para vivermos tão felizes quanto possível. Contentar-se com "meio-feliz", sem fazer por melhorar, seria arriscar não ver renovado o contrato. Viveríamos da mesma forma? Ousaríamos mais? Mudariam alguns medos e receios? E a forma de encarar encruzilhadas e momentos de grande mudança?
 
 
Mudar é romper, e romper dói. É desconforto e é desconhecido. É pôr hipóteses ainda piores. Abandonar um emprego, emigrar, montar um negócio, terminar uma relação ou fazer uma pausa na carreira para dar a volta ao mundo - assustam-nos decisões com o carimbo do irreversível, mais ligadas ao que sabemos que vamos perder, do que ao que ainda não sabemos se vamos ganhar.
 
 
No topo de uma plataforma de Bungee Jumping, cintos apertados e confirmados, diz a jovem paralisada para o técnico de segurança: "Importa-se de me dar um empurrãozinho? Eu quero mesmo muito ir, mas não consigo saltar!"
 
 
Dentro de nós, dois pilotos com missões distintas: um quer ao máximo evitar a dor, o desconforto e o arrependimento; o outro quer aproveitar a vida, andar entusiasmado e respirar alegria. Um acha que meio-feliz é mais seguro. O outro quer jogar intensamente, ignorando caneladas. Um vê um monstro a cada passo desconhecido, o outro imagina com leviandade um mundo mágico irreal.
 
 
Racionalizar estes dilemas parece resultar mais em paralisia do que em boas decisões. E ignora uma inteligência interior que sabe e nos diz, se queremos ouvir, qual é o caminho. Se é ou não altura de mudar. Às vezes pela calada, como um dente que dói, mas não muito, com medo de ir ao dentista, e que até dói menos se estamos para ir: "afinal não é preciso, estou bem".
 
 
Há momentos em que a vida é um comboio confortável que não vai bem para onde queremos. Esperamos muito tempo pela estação, para sair a bem, mas o comboio nunca pára, apenas abranda, de vez em quando, logo acelerando de novo. Mudar é saltar em andamento, é aproveitar a dúvida, é dar ouvidos ao coração. E saltar em andamento magoa e esmurra... mas um dia as feridas saram e ficam só as marcas; e boas memórias que nunca se perdem. Crescemos aprendendo a notar os momentos em que o comboio abranda e é tempo de saltar, a cicatrizar depois de doer, e a saber que o mais arriscado de tudo é fecharmo-nos numa vida que não vai para o nosso destino.
 
 
Podemos evitar o dentista durante muito tempo. Como creio ser possível uma borboleta sobreviver de asas amarradas. Mas... renovaríamos o contrato dos deuses? Seja para que lado for, dê espaço à sua sabedoria interior, confie e... LET GO!
 
 

 


 

 

 
Imagine the Gods have decided that, at the end of each life, we were granted a brand new one. Only one condition: having done everything in our reach to live as happily as possible. Settling for "half happy", without a real effort to improve, would be risking not having our life-contract renewed. Would we live the same way? Would we dare more? Would we change some of our fears? And what about the way we look at the crossroads and big changing moments of life?
 
 
Changing is breaking loose, and that hurts. It's discomfort and unknown. It's considering even worse scenarios. Abandon a job, emigrate, start up a business, end a relationship or make a career break to travel around the globe - irreversible decisions that change our fate forever can be frightening. They reminds a lot more of what we know we'll loose, than of the promised benefits.
 
 
At the top of a bungee jumping platform, all buckled up and ready, says the frozen young lady to the security technician: "Do you mind giving me a push? I really want to go, but can't do it on my own!"
 
 
Inside us, two pilots seem to have different missions: one wants, at any cost, to avoid pain, discomfort and regret; the other wants to enjoy life, be excited and breath joy. One thinks that "half happy" is safer. The other one wants to play intensely, ignoring fouls. One sees a monster in every unknown step, the other imagines lightly an unreal magic world.
 
 
To rationalize these dilemmas seems to result in paralysis more than in good decisions. And ignores an inner intelligence that knows and tells us, if we're willing to listen, which is the path. If it is or not the time to change. Sometimes on stealth mode, like a slightly aching tooth, afraid to visit the dentist, and that even aches less when it's almost visit time: "well, I don't need to go after all, I'm fine".
 
 
There are moments where life is like a comfortable train that's not really headed where we want it to. We wait quite a while for the next station, to get off safely, but the train never stops, it just slows down, from time to time, soon speeding up again. To change is to jump from a moving train, take advantage of the doubt, to listen to your heart. And jumping from a moving train hurts and sours… but one day every wound heals and all that's left are scars and good memories that are never lost. We grow up learning to notice those moments when the train slows down and it's time to jump, to heal after hurting, to knowing that the riskier of all is to enprison ourselves in a life that's not headed to our destiny.
 
 
We can avoid the dentist for a long time. Like I think is possible for a butterfly to survive with tied up wings. But… would we renew our contract with the Gods?
Whichever side it goes, give your inner wisdom enough room, trust and… LET GO!
 

 

6 comments
o Guito
Best-practice: levar este artigo no bolso de cada vez que salto do comboio, resulta ser mais eficaz do que a aspirina e o hirudoide! :))
in 2014-09-04 14:52:08
Goncalo
Boa nova viagem!! ;)
in 2014-08-30 21:47:33
João Manuel
Eu estou na fase de sacudir as mãos e limpar as feridas que estão a doer deste salto que dei.... mas a paisagem já me faz sorrir :)
in 2014-08-30 21:22:02
Carmen
De facto, às vezes só falta alguém que dê o empurrão, porque QUEREMOS saltar.
in 2014-08-27 20:39:48
Luis
Rita, existir, existe, mas não precisas de acreditar. Quando lá chegares e vires, sorri.
in 2014-08-27 17:40:33
Rita
Ai!... Imaginar a possibilidade de haver outra vida, de não ser só isto, de não sentir que ou sai bem agora ou depois já não dá!...

As possibilidades que pensar assim abririam!

:)
in 2014-08-27 14:50:36
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